26 outubro 2010

Sasá


"Só para mulheres" Disse-me o infeliz porteiro, com aquela gigantesca mão sobre meu peito, interrompendo minha passagem.
- Como assim: "Só para mulheres”?
- Somente mulheres entram no local, Senhor.
Saí da fila revoltado, bravo e intrigado. As três garotas que estavam atrás de mim deram um sorrisinho de deboche, e se não fosse pela presença daquele segurança monstruoso, eu as teria ofendido.
Que espelunca aquele lugar!
Eu estava à procura de um lugar para beber, naquela altura da madrugada não havia nada aberto. Estava eu e meu cigarro.
Sentei do outro lado da rua, na sarjeta, ascendi outro cigarro e um vira-lata cruzou a esquina, me olhou com cara de espanto e veio me fazer companhia.
- Não te deixaram entrar também? Só entram mulheres, rapaz.
O cachorrinho também parecia revoltado. Estava magricelo. O pobre coitado achou que eu teria um pedaço de carne, ou qualquer outra coisa de comer. Viu que a investida seria inútil, e resolveu deitar-se ao meu lado. Trouxe com ele uns mosquitos, mas não me importei, acho que eu também já não cheirava bem.
Observávamos a espelunca, às vezes saíam moças sorrindo, estavam vestidas de forma casual, não pareciam bêbadas nem sóbrias, estavam felizes. Não pareciam ricas, se eram, disfarçavam bem. Casaria-me com todas elas, pensei.
- Que canalha sou eu, rapaz.
O pulguento balançou o rabo, concordando que eu era um idiota.
Apaguei o cigarro e me dirigi à casa de meus pais. Levei o pulguento comigo e dei-lhe o nome de Sasá, de Sarnento.
...

25 outubro 2010

De cabeça.




Passaram-se 10 minutos e ela continuava ali, olhando sem me dizer nada. Eu sabia que nem olhando ela estava, se quer estava ali.
Ela estava longe, mais que a lua, creio. Sem ouvir, ver, sentir. Estava olhando num ponto fixo do quarto, imóvel; como quando fixamos o olhar em algum lugar e nos desprendemos da realidade. Sempre me acontece isto quando estou com sono.
Mas não era este o caso de agora.
Doía ver aonde chegamos. Depois de tanto tempo, tantos beijos, abraços e promessas, naquele pedaço de terra que até mês passado não era meu, era o nosso lugar.
Mas o que mais dói, são os planos. Dá-me mais saudade de tudo que não vivemos.
Porque o que foi, passou. E não foi de todo ruim, nem de todo bom, foi apenas uma passagem qualquer. Pelo menos para mim, para ela creio que não. Mulheres são mais sensíveis, não podemos negar. Elas se apegam a coisas simples, se apaixonam, cuidam e amam coisas insignificantes aos olhos da maioria. Só há essa explicação para ela me amar, ver uma beleza onde não há, ou pelo menos, ir bem no fundo, onde nenhum outro ser é capaz de ir e encontrar beleza ali.
E tudo que não foi dói, porque a imaginação imagina centenas de coisas fantásticas, e dá uma vontadezinha de tentar de novo, só para ver se seria fantástico como imaginamos.
Mas não daria para mim. Já não poderia ser metade para ela, mesmo que a metade fosse o suficiente. Não sei ser aos poucos. Vou de cabeça.
Por isso parti do lugar que nunca voltarei.
Sei que será melhor.
Depois da tormenta vem a calmaria, a paz que ninguém tira.
Só é preciso força pra suportar este primeiro 'round'.

18 outubro 2010

Neuclíce Ferreira.


NF chegou e sentou-se no fundo da sala de aula, no lugar que ela se senta há exatos 160 dias, ou mais. Ali dá para ver todos que ela já conhece muito bem.
Aqueles que vêem direto do trabalho e os que tomam banho e só aparecem depois de terem jantado.

O rapaz que se senta a sua frente, vem sempre com uma bota que, provavelmente usa numa fábrica qualquer. Tem a expressão cansada, também pudera, imagina que ele acorda muito cedo.

Os prédios ao lado da sala são todos antigos, fedendo a mofo. Há inúmeras janelas, muitas delas com roupas dependuradas. Roupas de todas as cores, para todos os gostos. Por vezes aparece algum rosto assustado na janela de algum andar. Tem dias que observa e vê uma mulher que segura o bebê, enquanto fala ao telefone e mexe no fogão. Talvez isso seja perigoso. Mas quem é que não vive perigosamente nesta vida?

Noutro dia no meio de uma aula todos ouviram um grito, que veio de algum cômodo de algum daqueles prédios imundos. Depois do grito o professor fez uma piada trágica: “Alguém morreu”, disse ele. E a sala toda riu, inclusive NF.

Talvez algo realmente terrível tenha acontecido naquele momento, ninguém sabe e ninguém viu. Mas quantos gritos silenciosos nos são ditos a todo o momento?
Mesmo naquela sala, que sentia-se tão confortável e tão desconfortável ao mesmo tempo. O que cada uma daquelas criaturas estaria dizendo internamente?
NF não poderia imaginar, até podia, mas agora não há tempo, o professor acabara de chegar.

Enquanto ele fala, NF observa a sala. Todos sentados, alguns desajeitados, com as pernas abertas, cabeça torta. As garotas da primeira fileira trocam cochichos ao pé do ouvido, a senhora da segunda fila faz anotações, o rapaz da frente tem a cabeça encostada na parede.

Há muitos cartazes colados na sala, não haveria necessidade de tantos, pensa. Alguns são iguais colados num canto e noutro da parede. Poluição visual, mas não pior que a visão que se tem através janela, que agora está encoberta pela cortina que fecharam. É uma cortina de tecido muito grosso, vermelho, com detalhes em dourado. Imagina que há muito pó e ácaros naquela cortina. Pelo visto não há ninguém com problemas respiratórios nesta sala.

Quando se vê já são 21h. O tempo passa rápido. Agora todos sairão para comprar pipoca, no térreo. O Senhor do carrinho de pipocas está encostado na porta de entrada da Galeria, às vezes ele não vem, mas veio hoje.

NF desce e espera na fila. Olha para os pés e vê um sapato sujo depois de um dia normal.

16 outubro 2010

Domingo, sunday, ou como você mais gostar.

De repente ganhei seguidores, e agora mais do que nunca me sinto na obrigação de escrever para vocês.

Então este texto foi feito para você que agora lê, com toda essa boa vontade e paciência do mundo.
Muito Obrigada.
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Os olhos querem fechar... Compreensível, depois de uma semana mal dormida.

Que sensação boa esta, de deitar e saber que nesta noite não há limites para os sonhos. Saber que amanhã será um novo dia, que poderá começar ao meio dia, e não necessariamente às 06h30minh como nos dias normais.
E poder acordar com o cabelo bagunçado e permanecer assim, de pijama sem escovar os dentes e ir brincar com seu cachorro.
Ver programas que não nos acrescentam nada. Mas e daí? Amanhã não queremos pensar.
Não vamos pensar em problemas pessoais, do trabalho, ou o que quer que seja.
E na hora do almoço, para àqueles de famílias tradicionais, nada melhor que o macarrão da vovó. E modéstia parte, galera, o macarrão de minha avó é simplesmente sensacional.

Amanhã não quero ler o jornal.
Não entendo essa mania de Norte Americano ler jornal no domingo de manhã.
Que bobagem!
Já me bastam as tragédias lidas de segunda à sexta.

Amanhã será Domingo!

Que não é como o sábado.

Sábado é sacanagem, Domingo é descanso, paz, sossego, família e FUTEBOL.

Sorte nossa amanhã não ser Domingo de eleição. Porque domingo tem dessas coisas ruins também, como tudo nada vida.

Pior quando vem pra casa aquele parente chato, aí mais vale a segunda-feira!
Pior é não ter a avó para fazer o macarrão, e acabar comendo aquele miojinho.
Pior quando não temos nosso amor pra enroscar o pé.
E é ainda pior para aqueles que nem casas têm.

Mas, apesar de tudo, vale a pena esperar.
É o dia Santo, o dia de se reconciliar com Deus e os astros. Recompor as energias, pra na segunda-feira começar tudo outra vez.


Feliz Domingo a todos.

(Obs: Na foto, Eu em 2007 e minha falecida cachorra, Baleia )

14 outubro 2010

Slow down your mind


Eu tento abrandar, mas não consigo. Meu coração acelera, te quer, te deseja, e só consigo pensar em como te ter, como te amar, como te querer mais, como continuar pertinho. Como ser sua, como te pedir – sem pedir – pra você ser só minha.

Acho que agora ainda te amo mais, por te conhecer. E tambem tenho mais medo, por te conhecer também.
Por isso há dias que me sinto vazia, como um acorde de bateria solto e sem compasso.

"Baby run run run...
And although we had our problems, we where fine
The sky was blue and the night was all I wanted
Let me be your comet, I will fly"

Deixe-me ser o seu cometa, eu voarei!

08 outubro 2010

O Vício Mata


- "Oi Paulinho! Vazia a Sorveteria hoje, heim?!"
- "Bete não veio. Ela se foi."

Bete se foi como o pai de família que sai para procurar emprego, e o que se vê são os olhos cansados e esperançosos da família na porta, que se despede.
Mas para nós já não há esperanças.
Eu tinha muitos planos para Bete...Mas eles eram grandes demais, pesados demais para a pequena Bete.
Ela era grande e tornou-se pequena.

Bete se foi porque não acredita em nós.
Claro que a culpa foi minha, vocês sabem... Bete é perfeita, o anjo, eu sou o animal.
Pra começar, ela não entendia meu vício e amor pela Nicotina.
Mais difícil foi o fato de eu um dia ter amado Clara.
Ah, Clara!
O que Clara fez comigo poderia ser contado em uma linha... Ela me devorou até os ossos e depois me deixou no chão. Num canto imundo e fedorento, me deixou da pior maneira que alguém poderia deixar.
Bete não! Bete me abandonou antes de me devorar! E isto dói muito mais.
Evidentemente, não há a possibilidade de comparação de dores. Mas eu desejava para que Bete me devorasse para sempre.
Que idiotice a minha achar que Bete amaria para sempre um canalha como eu!

Oh Céus! Bebi demais!
Tudo dói agora. Não consigo raciocinar!
BETEBETEBETEBETEBETBETEBTEBETBETBETBETBETEBETE!!!

Ontem estava eu, na praça feliz, lhes contando da maravilha e do meu amor intenso de seis meses!
Acho que no fundo era a praça que estava feliz, não eu.

Há dois meses estávamos caminhando de mãos dadas, planejando nossos filhos, nossa casa. Planejando todos os filmes, sorrindo.
Bete lembrava-me de como a vida era estranha antes de nós.
Agora estou aqui, esperando o ônibus, que talvez nem venha - ele sempre quebra - na sorveteria onde tudo começou.
Sei que a sorveteria ainda tem a parede rosa, mas acho que desde o momento em que ela me disse adeus virei daltônico.
Já não vejo cores. Eu via cores em você, Bete cara de chiclete.
Pior é que a filha-da-mãe levou meu coração. Agora como poderei me apaixonar outra vez?

Ainda tenho meu cachorro, minha cama e meus dois últimos cigarros (preciso economizá-los).
Pensei em fazer greve de fome, afinal, já estou há quase 24H sem comer.
Caso eu não volte, já sabem.

"And if I stop for a minute
I think about things I really don't wanna know
So I guess I'm just a fiend
Consumed by the scene
And I'm the first to admit it
Without you I'm a liner stranded in an ice floe
The stage and the screens"
 

07 outubro 2010

Vícios


"Estou em abstinência de nicotina", pensei: Há quase cinco dias sem fumar.
Culpa da Bete, que não fuma e não gosta do cheiro. Nunca tive problemas com outras garotas, mas Bete é bete.
Bete cara de chiclete.

Não posso negar que o tempo passou rápido desde aquele encontro que lhes contei - na sorveteria - Diria até que o tempo passou rápido demais. De lá pra cá já se foram seis meses!
Bete continua linda, às vezes chata, às vezes mais linda ainda. Tornou-se meu vício, meu erro, meu medo e meu tesão.
Como algo que por mais que você tente abandonar, mais se agarra a você. É um prazer que sinto toda vez que lembro do seu nome, do cheiro, da pele.
Tornou-se impossível abandonar esta criatura. 

Mas quando parei pra pensar neste tempo passado, senti medo. Medo porque algumas coisas deixam de ter importância depois de uma semana, um mês, dois, três.
As boas sensações não deviam ter prazo de validade!
Neste caso, que coisa mais infeliz.
Feliz o homem que tem péssima memória, e "vive sempre as mesmas coisas como se fosse a primeira vez", diria o Filósofo Niet.

Estão vendo o que a ausência de nicotina me faz?
Estou eu aqui nesta praça, sem graça, sem Bete, sem nada.
Ela já não me vê todos os dias.
E quando estou longe daquele Ser, não desejo existir.
Era este meu maior medo, tornar-me mais dependente dela do que da própria nicotina.
Seis meses atrás, fumar um cigarro era a melhor sensação do dia. Nicotina era a causa e a cura de quase todos os meus problemas. E eu gostava disso.
É uma sensação idiota essa de dependência de uma coisa, mas sejamos honestos: É bem mais seguro que se tornar dependente de uma pessoa.
Coisas serão sempre coisas, talvez fiquem um tanto quanto velhas, mas nunca deixaram de ser, ou de ter a utilidade que sempre tiveram.

Eu tive uma bicicletinha vermelha. No começo só pedalava com ela. Passado um tempo, comecei a amarrar meu Pitbull nela, e ia jogando comida para ele ir me puxando. Okay, galera da “Defesa dos Animais”, eu era pequeno e magro, eu amava meu cachorro e nós nos divertíamos.
Mas acontece que a pobre coitada perdeu o freio, que ficou dependurado e num belo dia o freio enroscou na roda, que travou e me fez levar um grande capote. Fiquei com o rosto, o peito e os braços ralados um tempão.
E foi este o fim do nosso relacionamento.
Não só pelo tombo que a bicicletinha me deu. Mas porque a roda já não tinha conserto, e de repente ficou difícil para eu pedalar na pequena vermelha, de tão pequena que estava, ou a culpa fora das minhas pernas que cresciam demasiado.

Cansei de conversar com vocês; falo por horas a fio, e vocês não me dizem nada.
Ascenderei um cigarro.

04 outubro 2010

Outubro, Brasil e Eu.


Há tanto tempo que não venho!
Sinto-me num local totalmente desconhecido...
E não posso negar que ultimamente, tenho me encontrado assim, dentro de mim... "perdendo-me assim", dentro de mim.
Pra ser sincera, gostaria de já começar a lhes dizer centenas de coisas, coisas não! Palavras. Coisas eu sempre digo, coisas todo mundo diz. Difícil é dizer palavras que realmente são ouvidas, que fazem sentido, que inspiram, produz, evoluem, transcendem gerações.
Poucos os que conseguem.
Bom, como sou eu mera mortal cheia de coisas para lhes dizer, digo-lhe já que tivemos as eleições neste domingo.
Foi minha primeira votação, e confesso que me surpreendi com a rapidez e eficiência.
De fato, eu bem que poderia iniciar um texto filosófico sobre questões sociais partidárias, sobre as propostas, sobres candidatos "engraçadíssimos" que provavelmente - se não houver intervenção divina, já que a justiça nas leis dos homens não caminha - tomarão posse em Janeiro.
E o Presidente, meu Senhores, quem será?
Melhor pensarmos no último domingo de Outubro.
Entretanto, não posso negar que estou ansiosa para saber quem Marina irá apoiar. Diz cá o presidente do PV que apoiarão o PSDB, já que nos maiores colégios eleitorais do Brasil (MG, RJ e SP) já têm essa "aliança", se é assim que chamam isto. Mas, há opiniões opostas dentro do PV, Claro! Sempre há. E o PV "arretado" da Bahia, diz ser favorável ao PT, além disso, a própria Marina é amiga de longa data do presidente do Partido dos Trabalhadores, afinal, lá ficou por 30 anos, ou quase isso.
Por essas e por outras, estou ansiosa para saber quem será o Escolhido.
Não podemos negar que foi e será o PV o Protagonista dessas eleições... Quem diria!
Mas no meio dessa confusão toda, já é certo que caso o mundo sobreviva a 2012, Dois mil e quatorze vem logo aí e Marina será candidata de peso.
Mas além das eleições, tive outra notícia. A notícia de que o São Paulo contratou um técnico!
Óbvio, podem rir... Mas na falta do que falar, falarei do meu Tricolor.
Meu não! O nosso.

Do mais...Só peço que meu amor não se vá.
A vida segue tão boa e bonita com ele.

"The sun is up
I’m so happy I could scream!
And there's nowhere else in the world I’d rather be
than here with you
it's perfect
it's all I ever wanted
I almost can't believe that it's for real"
(The Cure - Mint car)
 
do it all the time?
I know that we should!