10 maio 2011

Carlos.



Ele acordou rapidamente, difícil era levantar da cama. 
Imaginava o gelado do chão de um piso de cor fria, que dava ainda mais sensação de frio. 
Àquela hora a vida parecia aterrorizadora fora daquele "dois por dois" que era seu quarto com sua cama e aquele cobertor surrado.

(O sol manhoso querendo continuar quietinho e manso, a neblima e o orvalho, o frescor, o cheiro do café...Esse cheiro da manhã).

Depois de minutos de contagens regressivas, criou coragem e colocou um pé sobre o chão. 
E o frio não era psicológico.
Rastejou-se até o banheiro e em um espelho sujo com pingos de pasta de dente viu uma imagem que não reconhecia. Na verdade conhecia de vista. Era o rosto de um jovem cansado, com mais ou menos 30 anos, uma cara de poucos amigos, semblante perdido; um ar de dúvida, como se estivesse a espera de algo.

Ligou o chuveiro.
Tirou aquela calça cinza e larga. Gostaria de ir trabalhar com ela, mas seria um tanto quanto inapropriado para as outras pessoas, mas para ele seria mais confortável e faria do dia, um dia mais feliz.
A água era mais quente que o esperado, e era bom...
Aos poucos deixava de ser o desconhecido Carlos do semblante perdido e passava a ser o Carlos do semblante aborrecido por acordar tão cedo.

Mas Carlos não era aborrecido o tempo todo. Estava um pouco mais irritado naquele dia pois teve que fazer a barba e cortou-se, e o ônibus estava um pouco mais lotado, o que o obrigou a ir um pequeno trecho em pé - se não fosse aquela moça bonita teria sentado - mas resolver ceder o lugar a jovem, que nem agradeceu, diga-se de passagem.

Mais aterrorizador do que levantar da cama e sair daquele quarto tão cedo, era a visão através da janela do ônibus.
Carlos sentia-se perturbado ao imaginar o quanto algumas pessoas pessoas têm.
Tão pouco!
E o sacrifício que era viver mais um dia para grande parte da população, enquanto para outra parte era pura diversão..."Ultrapassar o ônibus em um carro tão grande que até parece de outro mundo, ouvindo o som da moda", que Carlos nem imaginava qual era.

Era difícil ver logo pela manhã mães de família indo trabalhar numa fábrica, calçando botas de couro, que de feminino não tinha nada. O dia todo numa fábrica em um serviço repetitivo, pesado, cansativo. 
Senhores, que à esta altura ainda precisam sair e trabalhar para ajudar com as despesas. Ouvir destes senhores e senhoras que a aposentadoria ajuda, mas os remédios são demasiadamente caros. 
Crianças acompanhadas da mãe ou do pai que precisam chegar cedo para conseguir uma consulta em um Hospital de qualidade, já que onde moram a prefeitura não disponibiliza saúde de qualidade. 
Carlos observa na carinha dos pequenos que a vontade deles de estar na cama era bem maior que a dele, pior que isso, que os problemas dele eram infinitamente menores que os daquela gente.

Mas nem só de reflexões tristes baseia-se as manhãs de Carlos.
Aos poucos ele percebia o que era bonito e o incentivava a ter um bom dia, a manter sua auto estima lá em cima, era ver toda aquela gente feliz. A conversar, a não reclamar de ceder um lugar ao outro mais necessitado. A brigar sobre a rodada futebolística, a reclamar do prefeito e do responsável pela linha do ônibus, as mulheres a falar sobre a novela, a fofocar. As crianças aos poucos animando-se com a paisagem que passa, que para a maioria não tem importância.
A moça com a botina de couro e o uniforme da fábrica trazia um sorriso nos lábios com batom, e os cabelos penteados. Ao contrário do que Carlos pensou, ela estava feminina e bonita.
Via que era preciso tão pouco para estarem felizes.

Alegrou-se. 
Talvez a vida não estivesse no rumo que gostaria. 
Ele não estava naquele carro gigantesco de outro mundo ouvindo uma música da moda, mas estava feliz por não estar.
Feliz por fazer parte da parte que faz o país crescer, da parte que faz o país feliz, da parte que não te deixa na mão, da parte boa. 

06 maio 2011

Mãe!



Mãe,
de Luz,
de Lua,
de Sol,
Amor,
Que enxe o peito
Num deleito
Ao falar do filho
com respeito
Que às vezes chora
Ignora
Porque não pode sair
E luta
Chuta
Quer fugir
Mas mãe compreende
E a mão estende
Quando mais tarde o filho precisa
São nestes momentos que valem a pena a vida
Saber que onde quer que você vá
Ela estará
Saber que não há ninguém no mundo que te ama mais
Que te estima mais, protege mais, cuida mais.
Não há palavras capazes de explicar o que é este sentimento tão bonito e verdadeiro.
Mão obrigada por tudo!
Você vale mais que o mundo inteiro.