15 julho 2011

Histórias, nossas estórias.

O céu escureceu rapidamente... A velocidade era tanta, de uma forma que nem os meus pensamentos e instintos mais extremos poderiam imaginar.
De repente era uma escuridão sem fim, e confesso que senti um pouco de medo, embora pensasse não ter medo de escuro.
Agora era eu e mais nada, e o infinito que era a minha casa.
A chuva começou violenta, batia nas janelas e o vento assoviava alto.
Minha casa ficava longe de todas as outras e não havia um lugar que eu pudesse ir. Uma companhia qualquer era tudo que eu desejava nesse instante.
Quando acabou a energia e percebi que não tinha velas, não imaginei que seria tão ruim e tão longa a tempestade... achei que pudesse lidar com isso.
Entrei debaixo de uma mesa que ficava encostada na parede, debaixo de uma janela. Ali embaixo sentia-me mais segura por que dali não via nenhuma janela, e as janelas davam-me a sensação de ser observada, além do que naquele canto eu poderia ver qualquer coisa que se aproximasse, mesmo que só nos momentos de clarões dos relâmpagos.
Estava com uma bíblia junto ao peito, embora sentisse um pouco de raiva pelas interpretações de suas palavras feita pelos homens ao longo dos séculos, acreditava num amor superior, em um amor que pudesse salvar tudo.
Mas ao pensar em toda essa situação agora, parece algo tão simples e banal. Bastava eu esperar que alguém chegasse... Mas eu era só uma criança.
Não sabia do que me escondia... Minha mãe sempre dizia que devíamos ter medo dos vivos. Mas ladrão nenhum passaria por ali, tão longe, e que dirá no meio daquela tempestade. E bem, espíritos deviam estar longe, com aquele tempo tão feio... Provavelmente apareceriam em um dia ensolarado.
Depois de muito tempo ali, sentada debaixo da mesa, começou uma dor muito forte nas pernas, e o sono aos poucos foi tomando conta do meu corpo de menina.
Há uma frase do livro "O Caçador de Pipas" muito intensa que diz: "...é assim que as crianças lidam com o terror, adormecem".
Tomei coragem, sai debaixo da mesa, passei pela cozinha sem olhar para as janelas e entrei mais que depressa em meu quarto, caindo sobre minha cama lembrei que havia esquecido a bíblia, mas não tinha forças nem coragem para passar outra vez pelas janelas da cozinha. Puxei o cobertor sobre a cabeça e fiquei ali, quase sem ar, mas com esperanças de que tudo acabaria logo.