31 janeiro 2011

The end...

Ricardo estava certo, isso talvez fosse o que mais incomodava: a certeza do fim próximo.
Ele ama Rita tanto quanto ama a si mesmo. Amou-a e desejou-a durante todos os dias, mas sabia que deveria tomar uma decisão uma hora ou outra.

Rita ligou como fazia habitualmente, falaram-se, riram juntos como sempre.Rita trazia uma alegria pura, ela era uma espécie de milagre realizado. Tudo que Ricardo pediu a Deus havia naquele ser - humano, com uma ou outra coisa em excesso, mas havia. Fato é que na ligação, ela o informou que não se veriam no final de semana, como no anterior e anterior e talvez no próximo também.

Não o incomodava o fato de não se verem, apesar da dor da saudade, não era algo impossível de aceitar. Afinal, quanto tempo dura um final de semana?
Eu diria que tempo suficiente para esquecer, para endoidar, para o começo do fim.

Ricardo abriu sua garrafa de vinho. Estava sozinho de um jeito que não ficava a muito tempo, e de fato, sentia-se sozinho, de um jeito que não ficava a mais tempo ainda, desde que Rita apareceu, para ser mais exata. Encheu a taça, o vinho era demasiado seco, desceu um gosto amargo pela garganta, quem dera fosse apenas o sabor do vinho, que mais parecia vinagre.

Ele olhou por sua janela e avistou uma moça, talvez ela já estivesse ali outras vezes, mas Ricardo nunca se quer tinha notado. Estava com um vestido rosa que trouxe algumas lembranças da infância da fazenda onde cresceu. Ela sorria, era um sorriso diferente do de Rita, era desconhecido. De um desejo desconhecido.

Ricardo fechou rapidamente a janela. Como poderia pensar coisas horríveis? Não totalmente horríveis, mas no mínimo pecaminosas. Não, ele não poderia. Amava Rita, não amava?

Sentou-se no sofá que de confortável não tinha nada. Era um sofá vermelho, daqueles que você tem que sentar na posição correta, exatamente entre as tábuas, para não senti-las. A companhia toca. Seria a moça de vestido rosa? Seria muita maldição.
Era.
Ela precisava de uma informação. Que informação que nada, pensou Ricardo, está se oferecendo, Puta! “Vadias....as moças de hoje em dia”, sussurrou.


Ao voltar para dentro de sua casa segura, Ricardo se pôs a pensar onde estaria Rita. Talvez devesse ligar. Não soa nada bem ligar toda hora, ele gostaria de deixá-la livre, mas ligar apenas para dizer que sentia saudades não destruiria a liberdade de sua amada.
Ligou... Chamou, ninguém atendeu. Ligou outra vez e nada.
Onde está você, mulher?

Imediatamente lhe veio à imagem da Ninfa vestida de Rosa. Seria Rita uma destas? Não, claro que não. Rita era do tipo fiel, com bons e poucos amigos, trabalhadora que cuida da mãe, e ama os animais.
Mas essa dúvida, essa dúvida mesmo que maluca e precoce, mesmo que ele tenha certeza absoluta do amor de Rita para com ele a cada segundo...Essa dúvida estragou tudo.

Ricardo não era do tipo que esquece, que uma pequena coisa é pequena coisa. Muito pelo contrário: Ele é exagerado, que sofre por antecedência, que prefere terminar a adiar um sofrimento, a prolongar. Do tipo que volta atrás se preciso for, sabendo que nunca será como antes, sabe que “Uma coisa muda todas as coisas”.

Foi dormir. Oficialmente ele ainda namorava Rita e a amava, mas não como em todos os dias que antecederam este. Ele sentiu que aquela noite era o começo do fim dentro do seu coração.

Um comentário:

  1. Nossa! to em choque. Perfeito. A forma como o homem projeta sua mulher amada como se ela fosse o último reduto de moral ilibada. Perfeita, uma Deusa inatingível. Como as outras mulheres não deixam de existir e como se sabe que o fim começou...porque a moça de rosa se fez notar. Perfeito

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