23 abril 2010

Clara, minha luz.

"A maior sabedoria é ter o presente como objeto maior da vida, pois ele é a única realidade, tudo o mais é imaginação. Mas poderíamos também considerar isso nossa maior maluquice, pois aquilo que existe só por um instante e some como sonho não merece um esforço sério" Pag 76, A cura de Schopenhauer.

O mundo continua girando, apesar da noite mal dormida, disse-me ela, com aqueles olhos que me fazem perder o chão, e o movimentar dos lábios que instigam.
Eu já não poderia lhe confortar, nem ao menos lembro do que se tratou o restante da conversa. Lembro apenas dos cabelos a voar, do vento que trazia consigo um pouco de seu cheiro e um desejo imenso de chegar mais perto, para me afundar em seus cabelos, e talvez, quem sabe, nunca mais voltar... Ficar ali, preso a ela, como um hospedeiro que não pode viver em outro lugar, como a abelha que precisa do mel. Poderia passar o resto dos meus dias, até a eternidade, se tivesse todos os dias o cheiro dos cabelos de Clara.

Como um estalo, estava eu de volta a realidade.
Ela ainda olhava para mim, talvez tentando entender meu rosto com meio sorriso bobo e sonhador e meus olhos brilhantes de saciedade.

Oh céus! Pensei, "Este sorriso não, por favor". Não houve jeito. Eis que a criatura mais bela da face da terra entregou-me seu sorriso. O que estava ruim, ficou pior. Meu coração acelerou, de uma maneira tão frenética, que quase podia sentir minha camiseta xadrez pulsar junto.
Ela sabia como matar toda a minha razão de uma só vez. É um demônio, essa mulher. Vem me acertando aos poucos, até o auge de nossa guerra particular. Minha guerra particular, na verdade.

João, preciso ir, disse-me ela, com aqueles olhos que me fazem perder o chão, e o movimentar dos lábios que instigam.
Ah, Doce Clara, leve-me contigo. Para longe daqui, longe desse presente sem sentido. Estou me tornando um louco! Um desvairado! Que pensa em ti, a cada segundo medíocre da minha vida!

Claro, meus caros leitores. Eu não disse nada.

Clara se foi, e levou com ela meus desejos mais bonitos e urgentes.

Quando Clara se vai, torno-me um homem duro, feito o ferro. Sem olhos para o mundo, focado no presente. Sinto até um pouco de raiva do homem frouxo que me torno quando estou ao lado daquela criatura. Clara só existe por um instante, penso eu.
E "aquilo que existe só por um instante e some como sonho não merece um esforço sério".

Senti saudades, disse-me ela, com aqueles olhos que me fazem perder o chão, e o movimentar dos lábios que instigam.

Oh Céus! Feliz é o homem que consegue evitar a maioria de seus desejos.

A amo.

20 abril 2010

Vida louca, breve e insana.

"É impossível ter uma vida feliz. O máximo que se consegue é ter uma vida heróica".

Isso nao significa necessariamente que eu precise ir até o Planalto central e organizar uma passeata em favor dos pobres, ou que eu vá salvar um gatinho preso na árvore. Claro que estas seriam coisas maravilhosas a se fazer. Ou nao.
Mas creio que meu heroismo vem de dentro. E é bem mais dificil que isso.
Coisas pequenas do dia-a-dia, que vou aprendendo a abrir mao, a mudar, ouvir, compreender.
Mas, mudando de gato para lebre. HAHA
Hoje percebi uma coisa, talvez já tenha comentado sobre isso em algum texto idiota desse blog, mas se hoje senti outra vez, vale a pena repetir.
As pessoas ultimamente sentem medo do toque de um estranho.
Hoje, no caminho de volta, sentei ao lado de uma criatura. Nossos braços involuntariamente encostavam-se vez ou outra, e percebi que aquilo, por mais natural que fosse, causava desconforto na pessoa.
Um simples toque de pele, nos dias de hoje parece algo tao profundo, tao particular, tao tao tao... Sei lá!
Estive pensando nisso.
Quase nao tocamos na pele das pessoas.
É tudo rápido, automático. Sentimos mais as máquinas com seus ferros e plásticos, que o calor humano.
Pensar nisso me deixou um pouco abatida.

Mas, voltando ao assunto anterior. Na minha busca incansável de uma vida heróica, estive a reparar no sol dessa manhã (ou da manhã de ontem, levando em consideraçao as horas), pensando em valorizar mais, cada segundo. Óh, que lindo! Enfim...
O sol brilhava mais que os outros dias. Talvez anunciando que eu conheceria você.