13 março 2011

Contos que ninguem conta.

Oi, meu nome é Caco. A minha estória é a história de hoje.

Dois meses sem te ver. Os cabelos pareciam mais longos, o olhar mais preciso ou mais perdido, talvez. O ônibus balançava pelos paralelepípedos da cidade histórica. Quando entrou parecia uma espécie de visão trágica, horrível, filme de terror. Tentei cobrir os olhos para não vê-la, mas não consegui. Toda a massa humana que eu havia evitado durante esses duros e longos 2 meses acabara de ressurgir das cinzas.

“Mas que me merda!” Pensei, o que ela fazia ali, naquele ônibus, naquele horário. De certo havia encontrado algum namorado por aquelas bandas. E que azar o meu, saberia os horários e dias de encontros, se bem que havia outras horas, além daquela que eu sempre estava.
Não me viu. Sentou perto do cobrador sonolento, pensei em chamá-la, ou pelo menos avisar que aquele não era um lugar muito seguro para sentar-se.
Mas que burra... Tão inocente, tão pura, tão doce, tão bela, tão... NAO, NÃO e NÃO.
Dei dois socos na cabeça.
Olhei pela janela, a paisagem passava rápido; a vida deveria ser assim também, passando muito rápido e nós não percebemos, não vemos. Para quem estava lá fora tudo estava devagar, mas eu via a real velocidade das coisas.
O chacoalhar do 345 trazia um sono gostoso, mas hoje eu mais parecia uma coruja. O inesperado encontro, que nem encontro era, causou uma explosão dentro de mim, só que eu não estava concentrado nisso, senão eu explodiria.
Desde que ela me deixou venho tentando juntar os pequenos cacos, tornei-me um grande espelho quebrado, e cada pedaço que resgato e coloco no lugar, machuca mais um pouco minhas mãos calejadas.
Ela se levantou, agora eu não teria escapatória, de certo me veria ali, magro, cabelo despenteado, mal vestido, talvez até sentisse pena. Odiei o fato de ela me ver assim, não queria que ela soubesse a verdade, embora ela soubesse de qualquer jeito. Sabíamos o que o outro pensava só com o olhar, o toque... Um suspiro significava muitas palavr....NÃO, NÃO.
Desejei derreter e parar bem debaixo do banco, tentei e não consegui esse efeito fantástico de um dos vilões de O Homem Aranha.
Ela procurava alguma coisa alguma coisa na bolsa, e sem olhar para os lados passou por mim! NÃO, não acredito que não tenha me visto.
Agora gostaria que tivesse. Que abominável masoquista sou eu. Queria levar um sorriso vazio para casa.
Virei o rosto e praticamente subi no banco. Ela estava parada perto da porta de trás do ônibus enquanto ainda mexia na bolsa, agora quase que em desespero.
O 345 parou no ponto, quando foi descer virou de súbito o rosto e viu aquele ser que era eu, e a observava inclinado, quase querendo tocá-la.
Sua expressão era de surpresa, creio, não sei que expressão era, e não sei que expressão era a minha, desejei que não fosse muito assustadora, mas devia ser.
Ela desceu. Levantei e coloquei a cabeça para fora, continuei olhando e agora meu grande amor estava triste. Acenou com a mão que antes estava dentro da bolsa, e o que tinha na mão? Era uma arma? Era?
Não, não era. Não sei o que era, não vi. Nem sei para onde ia, àquela hora ali.
Desejei ficar com a cabeça para fora, e quem sabe uma arvore acabaria com o sofrimento que recomeçara.
Os cacos estavam no chão outra vez, e agora eu sentia sono.