23 novembro 2010

Surtos

Acordei no momento em que estava caindo... Caindo...
Mas se era apenas um sonho, pergunto-me de onde vem essa dor que agora sinto? Como se a queda, a corrida, a luta; fossem reais.
De onde vem este cansaço? Essa agonia que não cessa e insisti perturbar-me no calar da noite.

Tudo foi muito real e absurdo, e até certo ponto tenho medo de perguntar a alguém se foi um sonho ou realidade.
Sinto-me perdida.
Mais que cego no meio de um tiroteio, diria engraçadinhos bem humorados.
Mas a procura quando se está perdido não é engraçada. Não que um cego no meio de um tiroteio seja, mas bem, não sei... Ambos são dolorosos numa proporção diferente.

No sonho, num determinado momento, percebi que era sonho, e desisti de lutar. Aceitei o fato de ser um sonho. Nada era real, portanto nada poderia me afetar.
Tenho certo medo de trazer esta linha de raciocínio à vida, involuntariamente.

Quando nos deparamos pela "milionésima" vez com as mesmas situações, acabamos por pensar: "Não tem mais jeito, desisto". E desistimos, como se fosse um sonho, como se não houvesse alternativas, como se aquilo já não nos pudesse magoar, de tanto que já magoou.

Que horrível chegar nesse estágio...

Para mim parece sempre haver saída, ou tento até a exaustão, pelo menos. Como em jogos quando chegamos à determinada fase e parece não ter uma solução, mas sempre há.
Demoramos até conseguir passar por aquela merda, e no fim, nem era tão difícil assim.

A vida é o jogo...
O foda é só ter uma 'vida', não ter bônus, nada... E pior, não sabemos a quantidade de fases desse jogo cruel!
A última pode ser hoje, amanhã, no mês que vem.

E no fim, qual será sua 'fase' favorita? Entendeu?
Entenderão aqueles que curtem jogos de passar fases; sempre tem a fase mais legal, que você deseja voltar e jogar outra vez.

Boa sorte! E blá blá blá.

 
(bem-vinda TPM!)

22 novembro 2010

Transbordar rios

"Eu perdi o meu medo da chuva. Pois a chuva, voltando pra terra, trás coisas do ar." Raul Seixas




Tento parar e pensar, e o que penso é o barulho da chuva.
Depois de um dia de calor intenso, veio ela tímida a pingar e pingar, gota a gota, enquanto nós na terra esperávamos ansiosos por toda ela.
Não ouço os vizinhos que há pouco gritavam comemorando o gol da vitória do tricolor das laranjeiras. Não ouço os cães que há pouco latiam irrequietos e agoniados com o mormaço. Sasá, inclusive, encontrava-se numa briga assídua com seus “mosquitinhos”.

Só há um Xixixixixixixixixixixixixi plic plic ping ping...

E que sensação boa traz esta brisa! Que traz com ela algumas gotas de chuva, que me refrescam a alma.
Às vezes Sasá, quietinho e amuado perto do “comigo ninguém pode”, levanta a cabeça, observa, nada vê; então a abaixa outra vez e dá uma balançada no rabo.
De repente me surpreende um clarão seguido de um barulho... Não pareceu assustador. Pareceu-me como um grito de alívio de São Pedro, e talvez, de todos nós.
-
O Sol já se foi. Meio enciumado, creio eu. Porque hoje esta breve chuva valeu por todo seu dia de luminosidade.

Abro os braços, deitada na cama e deixo todo meu corpo relaxar... Cada músculo, cada pedaço bom e ruim.
Em poucos minutos iremos à dimensão dos sonhos, ao som dessa bonita sinfonia do céu... E eu sinto a cada respiração, que o amor por você pulsa em meu peito, minhas veias, tudo; "tudo que não me deixa em paz".

11 novembro 2010

"Todas as coisas são números".

- Pitágoras.



Quero mudar, ir com calma, no fundo, ao fundo de qualquer coisa, qualquer lugar. Chegar ao final, ao limite... Construir pontes no lugar dos muros. Construir um lar, manter amigos, manter coisas boas, jogar fora tudo que não presta e começar do zero.


O zero que é um número tão complexo e tão bobo. A começar por sua forma, única. Um círculo, redondo, significa vazio, nada e o início, ou o fim, depende do ponto de vista.
Que separa o positivo do negativo, uma linha tênue entre coisas tão opostas!
Como poderia o Zero ser tão bom companheiro, tão amável a ponto de se relacionar com todos com tamanha igualdade? Seria o Zero a melhor e mais bonita invenção humana?

Mas não há nada no zero. Zero e a solidão... Que por sinal, daria um bom título para um livro.

Estive pensando: Seria eu um Zero a Esquerda?
Um nada, Zé ninguém, Zé alguma coisa...Um imprestável?
No entanto, poderia ser também um Zero a Direita!
Que soma coisas, que aumenta, que dá igualdade, que facilita esta soma, enfim.

Queria ser um facilitador. Ajudar a somar bons elementos, subtrair maus e multiplicar.
Mas não entendo porque um número vezes zero é zero, já um número elevado a zero é um, e um número mais zero é ele mesmo.
Ah, criatura! Tão complexa e tão bonita...Tão jovem.
Não imagino como era a vida antes de ti. Aposto que era vazia e ao mesmo tempo pesada.

Indico Zero; cero; zéro; nul; noll; sero; ao Nobel da paz.

09 novembro 2010

Conquistar é diferente de possuir.



Conquistar é diferente de possuir, que é diferente de amar. Amar de verdade.


Ele sabia muito bem onde estava a se meter. Mas a conquista era algo de que ele não conseguia fugir. Não podia deixar de sentir o frio no estômago depois de uma palavra convidativa, o arrepio depois de um eventual toque nas mãos, olhares, mensagem às escondidas... Toda a imaginação do que poderia acontecer, e que talvez nem aconteça.
Sabia que, definitivamente, a imaginação é o tesão da conquista!

Sentia-se como um Leão, o predador, que vê sua presa distraída na beira do lago, e se prepara para o ataque, quase sempre bem sucedido, fatal.
Acontece que desta vez, Jorge não contava com o inesperado. A presa era tão amável que ele não poderia matá-la, se quer usar de seu amor, sem lhe dar algo em troca.

Jorge havia se apaixonado.
Tornou-se parte daquele ditado: “Caça e caçador”.
A jovem a quem ele desejava apenas possuir, o possuiu.
Ele tornou-se a presa. Ela o colocou numa jaula, botou-lhe uma coleira.
Dizem que Jorge agora é outro.
Pobre Jorge... Anda pela rua de cabeça baixa, pensamento lá longe. Ás vezes solta um sorriso envergonhado, e depois um grande sorriso ao imaginá-la.

A ladeira do Bairro Vila Madalena não era a mesma de ontem.
Até o rapaz na fila do pão sabe de sua captura.
Jorge não repara na moça da janela que arruma os cabelos, tampouco naquela de roupas curtas que varre a calçada.
Jorge está triste, não pelo amor, mas por não ser correspondido.
Diz Dona Sebastiana: Bem Feito!
Já Joaquina tem pena, parecia ser bom moço.
Sabemos que bom moço é o que Jorge não era.

Engraçada e assustadora é a vida.